Esta peça performática está inspirada na figura etnográfica da Gandaresa. Ela espera seu pescador vestido de preto e chora porque não tem certeza de que seu marido pescador voltará com vida. Esta ideia de espera e incerteza da mulher instala-se como leitmotiv na cultura portuguesa através da música, principamente no fado e de outras manifestações artísticas, encontrando paralelo na literatura grega através da personagem Penélope na Odisea de Homero. Assim, o propósito da peça “O Tempo” é questionar o paradigma da fidelidade conjugal e o adiamento da vida em função da família pela mulher como ato heroico.


A peça foi apresentada pela primeira vez numa residência artística com a Binaural Nodar em Vouzela e depois teve três apresentações na igreja das Carmelitas da cidade de Aveiro.
A espacialização sonora composta por Josefina traz a atmosfera do mar e da pesca, assim como a consciência da passagem do tempo. Um tempo que corre de maneira difícil devagar e dolorsamente. Um tecido de quatro metros e meio se desenrola do púlpito da igreja até o chão. Isso nos lembra as redes dos pescadores e ao mesmo tempo representa as cores do mar.
A peça expõe um roteiro dramático da mulher que espera até que alguém bata em sua porta, ela corre animada para procurá-lo, convencida de que ele está de volta.



